O trabalho espontâneo

"Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve."

Mês: junho, 2010

Imaginaria

Existem tantas coisas que não consigo entender, e tantas outras que hoje fazem sentido. Será que a vida é isso?
Ergo as pálpebras e cai morto o mundo inteiro, fecho os olhos e tudo volta a renascer. Acho que inventei você em minha mente. Mesmo assim é minha melhor companhia, meu maior apego e motivação de prosseguir sem pestanejar. Tá, tudo bem, assumo minhas (constantes) fraquezas. Há de convir que por ti aceito o mundo para conceder-te a melhor realidade. Dormi para a eternidade e acordei para a vida. É como se a partir de agora tudo fosse possível! Isso me consome.
Não me lembro de ter sentido a ambigüidade tão intensa, mas as coisas não me parecem estar fora do tempo. Sempre estive cercado de pessoas, sei que minha jornada é solitária, porém tenho você. A vida me soa mais colorida, as pessoas mais bonitas, e eu me sinto bem, muito bem! C’est la Vie.
Amanhece. A dor me consome, e não te encontro às claras. Porque raios os raios querem nos separar? Alguma coisa (definitivamente) está errada! Existe tanta coisa entre o céu e a terra, e o que me impede de querer te encontrar? Você existe, fique calma, companhia, onde quer que esteja.
Fui acometido de súbita nostalgia. Saudade daquilo que nunca tive nem presenciei. Mas está além do físico, alcançou a imortalidade! A minha imortalidade.
Sinto que estou sendo torturado pela vida; é um sentimento estranho, inexplicável, além da compreensão humana. Dei asas à imaginação; voou sem rumo e nunca mais voltou. Desculpa, mas não vou te deixar partir, por mais que esse seja seu desejo, o meu desejo.
Senti vontade de mudar. Não que fosse fazer diferença, muito pelo contrário. De qualquer jeito, mudei. Agora quero que me deixes, deixe que eu viva pra poder sonhar. Sonhar acordado, viver sonâmbulo. Fique aqui, onde moras; a qualquer momento posso vir a te chamar.

“I miss you
But i haven’t met you yet
So special
But it hasn’t happened yet
You are gorgeous
But i haven’t met you yet
I remember
But it hasn’t happened yet”

Ad libitum

Sinto-me sujo. Imundo, sem escrúpulos, capaz de enganar os outros para conseguir me enganar. Não me arrependo, o gosto da vitória ainda reina sobre mim. Se tu esperas que ei de pedir perdão, há de crer que quer se sustentar em ilusões. De certa forma, não consigo sentir cheiro de rosas. Minha garganta engole em seco, e minha saliva tem gosto amargo de aspereza. Mais uma vez, parado, em frente ao espelho, tentando entender o porquê de não conseguir mais enxergar o que era de costume. Onde está aquela ingenuidade? Aquela felicidade espontânea?
Consigo entender como tudo sumiu. Eu sou imundo, sem escrúpulos, capaz de enganar os outros para conseguir me enganar. Como posso? Esse não sou eu… Até onde eu sei. O que era demonstrado com tanta facilidade não é mais possível ser visto. Conheceste outro lado meu, no qual, ninguém conheceu antes. Não me arrependo, simplesmente aconteceu. Qual é a escolha certa? Na verdade nenhuma, escolhas certas não existem, apenas existem meios de sofrer menos. Só queria saber que meio é esse.

Libertas

Voar, eu queria voar. Voar alto, para longe. Deixar todos os problemas para trás, deixá-los no chão. Esquecer tudo. Tudo e todos. Por um instante apenas. E assim ficar leve a ponto de voar. Ir além do mais alto prédio, da mais alta montanha, na busca de sei-lá-o-que. Talvez a procura de mim mesmo. Ou então na procura de nada. Ir além do que um ser humano atreveu chegar. Ver todas as maravilhas desconhecidas. Atravessar as nuvens, sentir o gosto de algodão doce que tanto falam. Desrespeitar a lei da gravidade. Ser livre como um pássaro. Desconectar-me dos pensamentos. Ir aos lugares impossíveis e inimagináveis. Espairecer. Voar como um balão quando solto, até que não seja mais visto pelos humanos. Pensar. E assim, aterrissar, é preciso viver, arcar com as consequências da vida. Viver de uma maneira diferente de que vivia antes de voar, viver mais intensamente, aproveitar cada segundo, aproveitar cada voo antes que seja tarde demais.

0771

O mar meu se agita todo quando a estação resolve mudar. De repente, afinal, uma vida em branco, novinha, pronta pra rabiscar.