Brilho dos meus olhos

por Serafim Nhoque

“Eu vi brilho nos teus olhos”. Acho que meus olhos nunca brilharam tanto depois disso. Uma pessoa passa a ser enorme para você quando te olha nos olhos e sorri. Imagina então quando comenta do seu olhar?

Dentre meias palavras eu construí um raciocínio. Quis exteriorizar tudo, mostrar todas minhas ambições e tudo que me movia aqui. Você me olhava nos olhos, parecia fascinado. Interessou-se por minha vida e eu pela sua. Tudo era tão distante e tão intenso. Procurou alternativa para o meu crescimento e te revelei meus sonhos de criança. Minha perna tremeu. Minhas palavras foram tolas. Estive frágil e me permiti. Fui ingênuo e não vi mal nisso, apesar de criar um argumento para minha idade. Será que minha idade foi um problema?

Talvez eu esteja reproduzido tudo a minha maneira, já que o álcool a muito fazia efeito. Você foi meu refugio no meio a todos. E no meio de todos te convidei pro meu cativeiro. Quis ser teu cumplice e quis você como meu maior aliado. Revelei meus pensamentos. Revelei minha inocência e toda minha admiração por tudo que se passava, ao que passou.

“Não repare na bagunça” repare em mim, repare no meu olhar. O ardor de nossos beijos acalentava toda loucura, como heroína. Cedi-me a você e deixei fluir. Agora tudo parece confuso, enevoado, e acho mesmo que nem foi tão bom assim. Você foi bom, me bastou.

No despertar ansiei por sobriedade. Ansiei por concretude. Você se foi. Quero correr pra longe, longe de todos que se foram, que não quiseram ficar. Quero não me envergonhar da minha fragilidade e pensar que minha ingenuidade foi mesmo o que te cativou. Queria saber como foi, saber onde eu errei e o que ficou. Queria não me importar. Quero ver o brilho dos meus olhos e saber a origem pra que eu não me perca. Como ter certeza daquilo que não vejo?